Nesse sentido, o género é performativo e cada pessoa fá-lo constantemente através da aprendizagem e incorporação, mas também da recusa e

rejeição de normas, valores e atributos morais que são permanentemente avaliados, negociados e relembrados socialmente tanto por agentes singulares como por instituições. As desigualdades de género referem-se às diferenças de estatuto, poder e prestígio entre mulheres e homens em vários contextos, não se conhecendo sociedade em que os homens não tenham, em certos aspetos da vida social, mais riqueza, maior estatuto e influência do que as mulheres. A investigação em torno das diferentes problemáticas do género foi impulsionada pelo pensamento e movimento feministas, de gays e de lésbicas a partir dos anos 1970. Desde então, tanto as artistas como os artistas têm trazido múltiplos contributos para esta área, fazendo-se valer de espaços em galerias e museus, como dos novos media, art digital e net art, contribuindo para a construção de novos paradigmas, figurações, teorias e movimentos que se entrecruzam com novos papéis de género, contribuindo para a erradicação das hierarquias de género que prejudicam não apenas as mulheres, mas todas as pessoas nas diversas esferas sociais. Frequentemente estes artistas questionaram, subverteram e recriaram as normas, representações e práticas de género fazendo emergir novos discursos.

Face ao exposto, sabendo que ainda muito está por alcançar, no respeitante à igualdade género e às assimetrias de poder que daí decorrem, nas diversas esferas da vida e em todas as partes do mundo e que a arte é um espaço propício ao desenvolvimento de ideias de vanguarda, algumas vezes mesmo antes de existirem condições favoráveis à sua disseminação no foro público, esperamos contribuir, com a exposição Género na Arte, para uma cidadania ativa e para o incrementar de oportunidades de desenvolvimento de todas as pessoas independentemente do género.




Aida Rechena (Directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Chiado)

Teresa Furtado (Directora do Departamento de Artes Visuais e Design da Escola de Artes da Universidade de Évora)

O evento Género na Arte: Corpo, Sexualidade, Identidade, Resistência integra um conjunto de programas entre os quais uma exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC-MC), com a perticipação de artistas como Ana Pérez-Quiroga, João Pedro Vale, Ana Vidigal, Vasco Araújo, Gabriel Abrantes, Cláudia Varejão, Carla Cruz, Alice Geirinhas, Horácio Frutuoso, Maria Lusitano, João Gabriel e Miguel Bonneville, uma conferência internacional na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL), uma série de debates em diferentes espaços e instituições culturais, e um concurso de artes para estudantes organizados pelo MNAC-MC, Departamento de Artes Visuais e Design e Centro de História de Arte e Investigação Artística (CHAIA) da Universidade de Évora (UE) e Observatório Nacional de Violência e Género/Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da FCSH/UNL. Este evento tem como objectivo principal debater de um modo transdisciplinar as questões de género no panorama artístico contemporâneo (século XXI) e reunir pessoas de diferentes contextos e proveniências que debatam estas questões de modo a contribuir para a construção de uma plataforma de troca de ideias, de experiências, de oportunidades de criação, de partilha e de solidariedade.

Numa época em que assistimos a alterações rápidas e profundas do tecido social, a migrações massivas, ao contacto, por vezes pacífico por vezes não, de culturas e formas de ser, é pertinente questionar como são refletidas na Arte e na produção artística estas novas realidades? Como sentem a(o)s artistas, académica(o)s, estudantes, activistas e cidadã(o)s dos países lusófonos as questões relacionadas com as identidades, as representações sociais de género, os actos performativos associados ao corpo e à identidade de género? Como abordam a autorepresentação e a representação do Outro?

O género é aqui entendido como construção sociocultural das diversas e possíveis formas de ser pessoa, que por sua vez, toma múltiplas expressões e não se reduz meramente a caracteres sexuais. As suas diversas manifestações, entre as quais a identidade de género, a expressão de género, a orientação sexual, os papéis de género, as características da personalidade, bem como competências e interesses pessoais, são permanentemente construídas ao longo da vida.  

APRESENTAÇÃO

                                                                                                                                                                                                  

GÉNERO NA ARTE : CORPO, SEXUALIDADE, IDENTIDADE, RESISTÊNCIA